Visão geral

A vitória não era uma surpresa, aquela garota não era realmente digna de ser comparada a qualquer tipo de inimigo que enfrentou, na verdade, não poderia chama-la de inimigo. Mas algo era interessante, se elas eram criações dos seres que foi convocado para matar, apenas demonstraram que o "esquadrão" obelisko nada mais era do que crianças com poder para tentar alcançar o verdadeiro poder da lua. O olhar de pena pairou sobre aqueles corpos recém mortos enquanto abaixou-se próximo a eles, tocando a carne ainda fresca dos seres, passando a ponta dos dedos para dentro da carne da sereia, sentindo o líquido dentro dela por completo em sua mão, o líquido era quente e menos "denso" que um sangue comum. Não maculava a pele, apenas umedecia a mão branca com o líquido incolor da garota, aquele seria seu possível sangue? Jamais saberia. Levou a mão até os próprios lábios, degustando o sangue inimigo após uma batalha, sangue esse que fez o rei nortenho puxar o ar gélido pelas narinas e soltar aquele ar por entre os lábios.

"Mãe, este sacríficio é para você. Aceite minha oferenda, agradeço por você estar ao meu lado, me dando poder nessas horas sem o sol, sem Liljah"

Terminou de recitar o pedido e agrecimento para sua protetora, notou uma espécie de brilho estranho no local, um brilho forte e intenso que pensou jamais testemunhar, foi obrigado a levar a mão canhota em direção aos olhos para tentar fazer uma sombra no lugar e conseguir, contemplar com perfeição aquele ser. Uma garota? A silhueta feminina era a única coisa que parecia emitir aquela energia. O homem se colocou de pé enquanto encarava com dificuldade por alguns segundos, e quando os olhos acostumaram-se com a luz, não podia acreditar. Raiva, ódio, espernaças, compaixão, fúria, alegria; essas e muitos outros sentimentos percorreram pelo interior do homem, ele que teve em suas veias correndo gelo ao invés de sangue, gelo que travou seu corpo por alguns segundos, tornando-o mais pálido do que era.

— So-.. So-.. Sola.. Solar? — Recuou o passo, demonstrou a fraqueza, demonstrou não ser o monstro que deixava todos os inimigos e aliados acreditarem que era, seus olhos pareciam querer se fecharem por conta da quantidade de água que se encontrava ali, porém sabia que uma lagrima era um passo para a derrota. Não sabia se era ela, não sabia se era apenas uma invenção de seus inimigos para tentar desequilibra-lo. Porém, quem saberia de Liljah? Ninguém conhecia sua história, sua família jamais entraria para os livros, era esse o fardo que tinha que carregar. O punho cerrou, as mãos brancas tiveram marcas avermelhadas pela força que fazia.

— Se controle... Se controle... Seria ela invocada também? Não... Claro que não... Ou poderia? — Sussurrava, parecia um louco, indeciso, confuso, sua pele estava nitidamente arrepiada enquanto seus olhos avermelhando-se por manter um tempo longo sem piscar, e quando finalmente piscou, não escorreu lagrima alguma, conseguiu controlar seu corpo. Mas não por muito tempo, pois sem querer, pois sem desejar aquilo, seu corpo se movia lentamente em direção aquela mulher. Ignorando Hubun, Adam e qualquer outro presente. Sim, ignoraria seu próprio filho. — ----S.. — Sua voz não saiu, enfraqueceu-se perante aquela garota, estava próximo o suficiente para olha-la nos olhos. Retirou os óculos carmesim para conseguir contempla-la melhor.

— Solar? — Disse de uma vez, o nome que guiou seu povo, o nome que fez seu povo chorar e as valquírias ficarem de luto, o nome que causou a destruição dos saxões daquela época, sim, aquele era o nome que Elijah sempre se referiu à sua irmã. Ele encarava ela, não conseguia sorrir ou chorar, ficar feliz ou triste. Um turbilhão de sentimentos, sentimentos esses que pareciam fazer o coração do homem acelerar e finalmente paralisa-lo novamente. Queria abraça-lá, mas não sabia se era realmente sua irmã, poderia ser uma inimiga, poderia ser qualquer pessoa.

"Butcher... Eu... Eu posso estar prestes a cair na armadilha mais suja que existe... Se esse for nosso último contato, saiba que... Finalmente eu vi o sol como queria"

Morrer nas mãos de Liljah era um destino irônicamente triste, porém não tão triste quanto viver mais um dia naquela escuridão eterna sem conseguir ver a face solar, a única coisa que sua mente repetia eram as músicas que sua irmã cantava. As músicas que guiavam os barcos, as músicas que faziam até mesmo Odin, por seu único olho, cair em lágrimas. Thor não ousava bater a bigorna enquanto aquela voz guiava a nação, guiava todo um povo para a vitória.

— Jeg ser endelig lyset ... Tåken har gått. Jeg ser til slutt lyset, for den høye leder meg... — Dizia com a voz rouca, a música que ela sempre cantava, claro que ele não sabia, não lembrava, do verdadeiro tom, não se lembrava de muita coisa e se lembrava de tudo ao mesmo tempo. Suas pernas estavam exaustas, forçando o rei a se ajoelhar; seus ombros, caídos, forçados a inclina-los para frente enquanto sua cabeça, perante ao sol, não podia encara-la por muito tempo. Os dentes pareciam se ranger enquanto a canhota, suja com o sangue da sereia, foi em direção ao peito. — Og det kan forvandle seg, samtidig hele verden — Precisou respirar, precisou soltar o grito da nação, o grito de angustia e felicidade que apenas um viking poderia soltar, e após gritar... Finalizou, baixo, apenas ela poderia ouvir.

Não conseguia esconder a felicidade e as lágrimas que escorriam de seu rosto por conta das palavras e do encontro com sua irmã, pela primeira vez foi visto como o que era, um humano, mortal. A cena que acontecia ao redor de si era totalmente irrelevante, uma vez que estava ali, com o desejo para o graal realizado, ele não precisava mais batalhar por conta daquilo. Ergueu o rosto, limpando com a manga da camisa social, que, por causa da luta, não estava mais perfeitamente alinhada a cima de seu cotovelo. — Solar... Não posso acreditar em meus olhos... Fico feliz, eu estou feliz, não me sentia tão feliz assim à muito tempo, mas se você esta aqui... Você é uma escolhida como eu... Devo retira-la deste local, você não pode ficar em meio a guerra, eu não me permito perdê-la novamente.

Ergueu-se da areia, sua calça social estava suja por conta da areia branca, avançou pra cima da garota, abraçando-a com tanta força que poderia machuca-la, mesmo não sendo essa sua intenção. Por alguns segundos queria apenas sentir o coração da garota bater, era realmente ela, estava viva. Abriu os lábios para perguntar sobre o sobrinho, porém, lembrou que uma criança não poderia voltar, ele realmente não teria vindo à este mundo como os dois vieram.

— Não podemos ficar aqui, te levarei para onde estou acampado. Não se preocupe, eu lhe protegerei. — Novamente voltou o olhar para os demais, colocando o óculos carmesim, inflou o tórax no momento que pegou ar pelas narinas para solta-lo enquanto falava. — Vocês que estão aqui, considere-os aliados. Porém, meus aliados, aquele homem. — O rei ergueu a mão, apontando o dedo em direção ao ruivo.— Tentou nos trair, tentou fugir para se aliar aos inimigos.

Ao abaixar a mão, era nítido minha raiva com aquele ser nojento e traiçoeiro. — Eu não peço que os que não estão em condições de batalhar enfrentem-no. Porém eu peço para os saudáveis invocados, elimine este homem da guerra, para que em um futuro, ele não entre em nossas casas e mate nossos filhos. — Dizendo isso, caminhando em direção à um pequeno barco, caberiam todos aqueles seres ali dentro. Entrei no tal barco esperando os que viriam. — Os cansados, eu os receberei, darei-lhes água e comida. Tratarei-os como aliados nessa guerra.