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I can be the Sinner

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Mensagem por Uriel Denccini Sex Dez 08, 2017 11:16 pm

O santo, a queda e punição.


Uriel era o nome do homem, cujo virtudes chamaram a atenção de todos, ainda jovem, no início de sua busca por santidade. Sua origem era humilde, um pequeno garoto que largaria tudo para seguir os ensinamentos da igreja, mesmo com toda alegria que sentia naquilo, a servidão não era o suficiente, estava destinado à algo maior que ele e sentia isso em sua alma. Quando partiu de sua terra natal, a fim de reforçar sua fé e ensinamentos, não demorou muitos anos para alcançar o título de bispo. Pelas terras pagãs onde caminhava, almas eram libertas do julgamento divino, corpos eram curados e ungidos, e demônios eram derrubados com a oração continua. Suas palavras eram consideradas como sabedoria pura entre os mais devotos e luz para aqueles que antes estavam cegos na fé. Qualquer cidade ou vila em que o bispo entrava, era catequizada em pouco tempo. Alguns diziam que onde Uriel estava, a presença do mal sumia e cada vez mais os fieis clamavam pelo nome de quem seria considerado, um novo santo.

. . . Porém, mesmo um homem tido como santo entre os mais religiosos, também tinha seus pecados para confessar. Mulheres belas, de corpos esculturais, eram o mal na vida de Uriel. No início, era uma por mês, de preferência das localidades onde visitava, depois passou para uma por semana. Eram mulheres de corações fracos e abatidos, encantadas pela beleza do homem e por sua lábia, que trepavam para saciar a luxúria por uma noite e nunca mais eram vistas por ele. O pecado aos poucos consumia a mente do bispo, para se libertar, marcava sua carne com o chicotadas e espinhos. As marcas sempre viravam cicatrizes, que o lembrava o quão sujo era por dentro, mas no fim das contas, acabou se acostumando com a dor e fazia mesmo que tivesse pensamentos impuros. Logo, parou com sua fraqueza por um tempo. Até conhecer Catherine. . .

Pela primeira vez, viu a pagã, cuja aparência quebrava a razão de homens, arrastando-os para o mais fundo de seus desejos carnais. Não precisavam falar, nem mesmo se tocarem, apenas os olhares entre cultos mostraria um desejo escondido nas sombras de seus corações. Uriel, tentava escapar dela e das ilusões que aquele corpo lhe trazia, sabia o que precisava fazer, para tirar tais pensamentos da cabeça. Porém, por mais que sua carne ardesse e seu sangue jorrasse, não era o suficiente. Por isso, decidiu ceder a tentação mais uma única vez.

Sem demora, o fez. Cada toque sobre corpo, era mais um passo para a perdição, seus lábios se encontravam com os outros, famintos e cheios de desejo pela pagã. Suas mãos tocavam cada curva do corpo da morena, da mesma forma que apertava, sentindo a maciez da carne. Os beijos iam escorrendo de cima para baixo, sobre o corpo que aos poucos ficava nu com tamanha brutalidade usada para rasgar as vestes da mulher, cada toque dos lábios sobre a pele nua era obsceno e selvagem, chegando esses até próximo de sua cintura. Quanto mais ela se oferecia e gemia alto, mas o homem lhe queria, em alguns momentos, mesmo quando ela exitava, tomava tudo dela à força, pois no fundo sabia que ambos gostavam desse jogo. E sempre a tratava assim, subjugando-a contra móveis, abaixando seu tronco e empinando sua bunda, deixando suas pernas bem abertas e sua intimidade bem exposta para ser explorada com sua língua e dedos. Plaft! Um primeiro tapa direto na bunda, enquanto escorria o líquido entre as nádegas até suas pernas, seja pela saliva do rapaz como também pelos líquidos da própria, seu corpo tremia após muito estímulo, mas Uriel ainda nem havia começado a fodê-la. Definitivamente, estava louco para isso.

Porém, não poderia ser apressado com tal, afinal, estava se divertindo da mesma forma. Só de vê-la no estado em que ficava, as expressões de cansaço, as faces de desejo e as mordidas dos lábios, gemendo de forma descontrolada e manhosa, pedindo por cada vez mais daquilo. Não podia conter sua excitação, logo, precisava tirar suas roupas também. Estava sujeito a tudo aquilo, desfrutando de outro corpo mais uma vez, só que agora, a melhor de todas as mulheres que encontrou. A mulher não era apenas sua amante, mas aquela com quem dividia segredos e ideias. Uriel nunca teve muito contato com as crenças de outros povos e agora, tinha uma pagã que fazia sua cabeça. Com o tempo, começou a frequentar os mesmos locais, conhecendo e experimentando novas coisas. Em rituais, cerimônias, ele viu magia de verdade, fenômenos sobre-humanos que poderiam ser descritos como milagres ou poderes divinos. O bispo com o tempo foi se perdendo mais e mais, mudando sua percepção sobre o que era a verdadeira fé, a verdadeira religião ou verdadeiro deus. Agora, estava dividido e também angustiado. Seu desejo por redenção o trazia para a fé cristã, mas o consumo, desejos por liberdades o levavam para a fé pagã. Como poderia ficar a cabeça de um homem, que atende ao chamado de dois senhores? Seu conceito de fé e religião estavam perdidos, em pedaços, sendo remodelados por seus próprios desejos. Logo, definiu que pregaria uma nova fé e assim o fez. Misturando rituais, adicionando novos, alterando regras sagradas, tudo que podia fazer de errado ele fez e mais, espalhou suas crenças por onde passava, enquanto sua amante o seguia, sussurrando em seu ouvido.

Outros bispos, reis e até mesmo o papa saberiam da queda de Uriel, que agora não era mais um santo, mas um blasfemo. Era inegável que recebeu advertências de seus irmãos pelas inúmeras vezes que faltava compromissos para ficar com Catherine. Também teve oportunidades para mudar suas palavras diante do povo, mas elas estavam tão impregnadas na cabeça dos fiéis e suas ações contrárias ao comportamento de um homem santo estavam tão evidentes, que era impossível conter os resultados disso. O que era antes um simples rumor sobre o bispo, tornou-se boatos e deles vieram os testemunhos. A relação carnal dos dois já não era mais segredo para ninguém e mesmo os que olhavam com reprovação para o novo homem, não recebiam resposta alguma, pois Uriel acreditava de fato no que pregava. Com o tempo, as novas cidades, vilas e tribos catequizadas, absorviam valores que contrariavam as doutrinas da igreja. Seitas nasceram, novos deuses pagãos surgiam e a divisão de ideias gerou mais derramamento de sangue entre os povos. Seus fiéis mas fervorosos tornaram-se fanáticos amargurados, pediam a cabeça do bispo pela calamidade criada. Por essa razão, o bispo precisava morrer antes que criasse mais desordem.

Sabendo que os fanáticos queriam levá-lo para julgamento, buscou por sua amada para que ambos fugissem, mas naquela noite em especial, ninguém mais sabia do paradeiro de Catherine, simplesmente desaparecera. - Não pode ter me abandonado, não depois de tudo. Era o que repetia para si, até acreditar de fato que sua amante foi levada para ser julgada. Desesperado, buscou auxílio na última igreja onde pregava, suplicando a ajuda de seus irmãos na fé. Mas só entendeu a gravidade de suas ações quando a primeira estaca o perfurou pelas costas. Herege! Gritou o primeiro que o acertou em um golpe covarde, então, todos os outros homens de Deus o cercaram, iniciando o linchamento. Alguns deram socos em seu rosto, o desfigurando, já outros, mais pontadas com pequenas estacas para deixá-lo sangrando e mesmo quando caia no chão inconsciente, os chutes e cuspes o cobriam, manchando todo o chão da igreja de vermelho rubro. O arrastaram e o levaram até a prisão, onde ficou uma noite. Quando o bispo finalmente foi preso, ao despertar com o corpo todo ensanguentado, a primeira pergunta que fez aos homens que o julgavam, era onde estava Catherine. - Se acalme bispo, em breve você se juntará no inferno com ela. Longe dela, finalmente veio o choque de realidade. Preso na cela fétida e escura, agora poderia refletir sobre tudo o que fizera sem a influência de sua amante. - Só fiz o que achava certo. Todos os  presentes riram, exceto ele, agora já aceitava sua culpa.

Era meio dia do dia seguinte, conforme foi levado, todo vestido em roupas velhas e mal cuidadas, ficou no centro de um palanque de madeira. O show estava para começar. De joelhos em frente ao público que o vaiava, atentou-se em uma figura que começava a falar. - VEJAM! Este é Uriel Denccini, como todos sabem, está sendo julgado por blasfêmia, por sua luxúria e pelo seu ego. Irmãos, vejam o homem dito como santo, que agora é um pagão. Suas palavras trouxeram mortes, desordem e acima de tudo, mentiras. O que deveríamos fazer com ele? Hum?. Então alguém gritou. - CORTEM A LÍNGUA DELE! E o público ficou mais enlouquecido, querendo ver sangue. - Não, meus irmãos, cortar sua língua não o faria parar de mentir ou de enganar. Foi então que o algoz subia no palanque e descobria algo que antes estava oculto, atrás do julgado. Era a roda de madeira, um item peculiar para torturas, mas em breve todos entenderiam como funciona. O algoz pegava Uriel com brutalidade e o prendia em cima da roda, ficando posicionado no centro dela, os braços e pernas eram amarrados e de trás da máquina, o carrasco pegou um martelo de metal do tamanho do próprio braço. Por mais que sabia seu destino, Uriel foi forte, pensava que aquilo era como as vezes que se castigava, imaginava que passando por aquilo, seria perdoado. Toda a punição era uma provação, algo imposto a ele para testá-lo, esse era o único pensamento que o mantinha vivo. Seria como a águia de sangue, de uma forma cristã? Era tolo, mas não olhava para seu torturador, muito menos para o público que o assistia rindo. Precisava suportar toda a dor, era o seu próprio teste. Então, o martelo gigante e pesado descia sobre o osso do braço direito. Craccc!!! O som do que antes era um osso, mas agora se resumia a um saco de sangue, fragmentos e fratura exposta. O homem preso, por sua vez, gritou enlouquecido com a dor mais intensa que poderia sentir. A multidão, claro, gritava alucinada ao ver o desespero do antigo bispo, enquanto o algoz ia para o outro braço. Uriel não tinha tempo nem para chorar ou implorar, o martelo caia novamente sobre si. Craccc!!! A agonia sem fim cobria a existência dele, não sabia mais o que pensar, tudo era só dor, tudo era desespero e seus antigos fiéis, hoje riam e aplaudiam sua desgraça. O que era o ser humano afinal? Um monte de merda ingrata. Mas o algoz não parava e foi em seguida para outra perna, depois a última, o espetáculo atraia a atenção das pessoas, mas a cena era tão chocante que alguns cobriam o rosto enojados ou simplesmente não conseguiam continuar a assistir, quando acabou, todos apenas ouviram um nome sendo pronunciado. - Catherine. . . . Muito sangue escorria pelo palanque e agora, era o grande final, depois de arrebentar com os braços e pernas do bispo, o soltaram e jogaram seu corpo ali mesmo, para que os urubus e outros animais se alimentassem da carne dele. Ainda respirando, podia ver eles se aproximarem. - Isso. . .é o inferno?. Ficou por alguns minutos servindo de comida, até finalmente, sua alma deixar o corpo.

. . .Retorno

E finalmente, toda a dor em seu corpo acabava, agora, restava apenas seus pensamentos. Por alguma razão vagava ainda dentro de seu subconsciente. Mas afinal, onde estaria agora? Não sentia seu corpo, não que deveria, afinal, foi todo quebrado em pedaços e dado aos animais. Mas mesmo que conseguisse enxergar a escuridão sem fim, não sentia como se pudesse fechar os olhos, era como se não possuísse mais as pálpebras. Então, deduziu que já estava morto, porém, ainda consciente em um outro plano. Seria o purgatório? Haveria um anjo ou um demônio a sua espera? Ou poderia ser conduzido por valquírias? Não tinha certeza de nada, tentava falar algo ou até mesmo gritar, pedir por ajuda, mas ninguém o respondia. Ficou por muito tempo assim, e portanto começou a acreditar que essa era sua verdadeira punição, o isolamento, a não existência. Enquanto isso ocorria, seu coração enchia de raiva e ódio pela raça humana, aqueles pelos quais dedicou sua vida a ensinar o caminho da salvação foram os responsáveis por estar ali. Aquela raiva o consumia por dentro, poderia abraçar o próprio inferno se fosse para sair dali. Então, a voz o chamou. 

- Uriel, Uriel. . . Pobre tolo. Então, é vingança o que busca?

Vingança, pronunciado por uma voz que ecoava de todas as partes. Um nome, era o primeiro que surgiu em suas memórias entre os pagãos. - Vidar? . . . Pronunciou na esperança que a entidade se manifestasse novamente.

- Ela o aguarda, para que sua vingança seja concretizada, derrame mais uma vez suas calamidades sobre os homens.

Não conseguia compreender o que queria, não sabia quem era a entidade com quem conversava, conforme suas palavras vinham, Uriel se enfurecia mais e mais. Queria respostas para suas perguntas, queria saber o que seria de si, mas acima de tudo, quem era “ela”. - Diga, diga logo de uma vez o que você quer. . . Quem é ela? De quem está falando? Que calamidades? Eu não fiz nada a não ser tentar mostrar a verdade às pessoas.

- Você apenas tentou justificar seus atos, sua ganância e seu amor por si. Não consegue ver? Você foi usado para criar mitos, seres terríveis determinados a serem meus filhos. Aqueles que trarão minha essência e tornaram tudo realidade. Mas devo lhe recompensar, agora vá.

Não conseguia respondê-lo, nem fazer mais perguntas, apenas, sua mente era acessada e informações eram jogadas nela. Conhecimentos sobre sua história, sobre o peso que ela trouxe a humanidade e qual seria seu papel na batalha que viria. Então, tudo fez sentido, exceto uma coisa, o que havia ocorrido com sua amada? De repente, seu ser começou a queimar, podia sentir chamas se espalhando e formando um corpo, seu corpo. Quando as sombras se dissiparam, abriu os olhos, vendo luz mais uma vez. Estava inteiro, olhando para suas mãos ao mesmo tempo que as fechava com força, mas não deveria estar só, sabia que mais alguém apareceria, então “ela” de fato viria. Sabia o verdadeiro nome de sua escrava, sentou sobre o sofá, ergueu sua mão como quem manda outra pessoa se levantar e disse. - Venha até mim, Proselyte.


Uriel Denccini
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Mensagem por Proselyte Sex Dez 08, 2017 11:21 pm

SOMETIMES AN ENDING IS JUST A BEGINNING


O corpo parecia ser desenhado pelas mãos de um verdadeiro artista, talvez uma obra perfeita divina. O vestido deixava à mostra os seios fartos junto dos fios longos platinados que caíam pelas costas e ombros em uma cascata de gelo. A ansiedade era refletida pelo tamborilar dos dedos delgados no encosto lateral da cadeira luxuosa, em uníssono com o salto fino que batia contra o chão. O suspiro pesado era acompanhado do vapor condensado pela baixa temperatura naquele local, o que lhe era agradável, de certa forma. Ela se lembrava daquela sensação de estar viva, de andar pelo mundo dos homens. Suas recordações eram como troféus, passagens avassaladoras que macularam sua alma há muito destruída pela sua natureza impura. O olhar rubro percorrera o cômodo antes de sentir a energia dominá-la, as sensações que a presença trazia consigo. Pela primeira vez em muitos séculos, ela sentira algo inimaginável diante da previsibilidade encontrada na mais bela e vulnerável criação de Deus: Surpresa.

“É ele?”


As memórias a atingiram como ondas quebrando à beira de uma praia. Tão intensas e inevitáveis. O estrago causado fora irreparável, ela o corrompera nos mínimos detalhes. Colocara em dúvida a integridade de um devoto, o fizera questionar seus dogmas, suas crenças e tudo o que antes era translúcido, na presença daquela mulher não passava de penumbra sem respostas. Ele não fora o primeiro, e certamente não fora seu último brinquedo, mas poderia dizer que em algum momento ele a fizera sentir, ainda que uma fagulha da dádiva que abençoara os humanos. Eles eram capazes de ter emoções, algo que aquela criatura nunca compreendera. Por que permitir emoções como tristeza, desespero, frustração? Por que deixá-los expostos ao mal e nunca ajudá-los? Por que Deus criaria o homem, se no fim, eles destruiriam uns aos outros pelos mais deturpados motivos? Ele era cruel. E fora ainda mais com Uriel.

O bom filho à casa retorna, dizia as escrituras. “Retornam?” Ela se questionava. Como poderiam voltar se estavam perdidos? O caminho entre as pernas de uma mulher era muito mais deleitante que pregar a palavra de um ser que nunca fora visto. Os devaneios se aprofundaram conforme as noites em que se deitara com aquele homem brincaram em seus pensamentos. O ato de dominação é algo muito além de sexo. Ele podia acreditar que naqueles momentos a tinha, a subjugara, mas sempre fora ela. Era a mulher que o controlara ao seu bel-prazer, que preenchera todos os vazios sem respostas com a sua presença. Comandara seu corpo e alma, perturbara sua mente e guiara seus passos direto para a destruição. Os dias compartilhados eram banhados em luxúria, paixão e devoção. Ele a amava, mas ela nunca soubera o que era isso. Apenas era capaz de traduzir as palavras e toques naquele sentimento tão abstrato e desnecessário para alguém como si. “Catherine” se perguntava como seria estar naqueles sapatos. Como é amar uma pessoa ao ponto de desistir de quem você é? Como é sentir isso?

Nunca saberia. Mas aquilo… Ah, ela conhecia perfeitamente.





R E V E N G E


“You lie, silent there before me. Your tears, they mean nothing to me...”


Eu te odeio pelos sacrifícios que fez por mim. Eu te odeio por cada vez que já sangrou por mim. Eu te odeio pela maneira que sorri quando olha para mim. Eu te odeio por nunca assumir o controle sobre mim. Eu te odeio por sempre me salvar de mim mesma. Eu te odeio por sempre me escolher e não outra pessoa. Eu te odeio por sempre me puxar da beira. Eu odeio você por cada palavra gentil que já disse… Eu vou te fazer sangrar até secar agora.


Aquela fora a última noite que partilharam dos prazeres profanos da carne, e isso a divertia. Ele morreria como um verdadeiro pecador. Teria seus homens, os que um dia chamara de irmãos de fé, como seus inimigos. Ele seria traído. Em Terra, conheceria as características intrínsecas da humanidade, seres vis, inescrupulosos, que utilizam a fé como pretexto para seus atos brutais. O Inferno era realmente o submundo? Ou a crueldade terrena era ainda mais dolorosa? Seriam os nove ciclos infernais mais devastadores que a natureza nefasta dos filhos de Deus? Talvez o verdadeiro abismo de fogo fosse o agora.

“Here's a lullaby to close your eyes...”


Inatingível, ela observava. Vozes alteradas, passos agitados, o calor da batalha. “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei.” Tais palavras ocuparam sua mente naqueles segundos que passaram, talvez até mesmo minutos. Fascinada, se perguntava como os mesmos homens que tinham como propósito disseminar esses mandamentos eram capazes de distorcê-los para sua serventia. Então, o amor de Deus e sua misericórdia ilimitados, a verdade irrefutável de sua benevolência não passava de uma mentira? Pois se aqueles seres foram criados à semelhança do Pai, tudo não passava de uma farsa. Portanto, não havia maior entretenimento para a garota que presenciar a hipocrisia. Talvez até mesmo Deus zombasse deles, afinal, quem entenderia o propósito do Todo Poderoso? Aquilo era um verdadeiro espetáculo que ela protagonizara.

“It was always you that I despised....”


E fora ela. A verdadeira traidora que jogara o homem aos lobos para ser devorado por trazer calamidade ao mundo em suas pregações, originando seitas e cultos macabros. A mulher com quem se deitava e repartia seus pensamentos, dúvidas e, principalmente, seu coração, fora a sua queda. Lá estava Uriel, imobilizado em uma roda de madeira diante da multidão fervorosa que clamava por sua punição. Como bestas animalescas, desejavam que o sangue daquele herege iluminasse a escuridão. Almejavam a expressão de dor, excitavam-se com a ideia de vê-lo suplicar. Mas ela sabia que o homem não o faria. Sabia que ainda que seus membros fossem quebrados um por um pelos grandes martelos de metal empunhados pelos torturadores, ele não cederia. Era uma presa forte, deveria admitir. A população assistia com imensa satisfação e ela, com indiferença. A face coberta pelo capuz negro ocultava as longas madeixas obisidianas e o olhar oblíquo acompanhara o corpo desfigurado abandonado para servir de alimento aos animais. Então, aquele seria o fim de sua passagem. Por algum motivo inexplicável, um peso recaíra sobre seus ombros. O que era? Remorso? Não. A mulher não tinha consciência, não passava de uma fera indomável.

“Catherine…”


O murmúrio inaudível para meros mortais a atingira como uma lâmina em seus pontos vitais. Por um ínfimo instante, seu corpo pareceu reagir, como se cada músculo gritasse para que ela se movesse e o tirasse dali. Mas não podia. Imóvel diante da cena, a destra seguira em um movimento delicado até os olhos, mas que escondia uma intensidade de emoções desconhecidas, e então descobrira.

──── Isso… Isso são…

“I don't feel enough for you to cry.”


[...]




When your world comes crashing down
I want to be there
I'm not Jesus
Jesus wasn't there


As linhas do destino não eram apenas tortas, mas também carregavam uma intensa ironia. Tê-lo novamente diante de si trazia para a equação uma incógnita que nunca encontrara solução. As lembranças outrora enterradas junto a tantas outras, renasciam como uma fênix de suas cinzas. Porém não a queimava da mesma maneira. O corpo se erguera majestosamente, a fúria e desejo de vingança de Uriel eram tão palpáveis e sinestésicos que sentia em seus lábios o gosto amargo de suas vontades. A beleza daquele homem permanecera intocável, mas o brilho que acendia em seu olhar desaparecera. Ele não sabia que era ela ali, e nunca poderia saber. Havia muito em jogo, não mais se tratava de um homem que levaria à decadência, agora ele era seu Rei. Proselyte estava presa às correntes de servidão, amarras invisíveis que assolavam sua essência. Entretanto, não havia nada no mundo que a mulher não pudesse encarar como um jogo em que sempre seria a vencedora. Agora ele definitivamente se sentiria no comando, mas ela tinha suas próprias armas e nenhum medo de usá-las.

Como uma serpente, ela se aproximava do cômodo adjacente. Graciosa, até mesmo sua voz mesclava inocência e lascividade. De cima, ela o observava, a soberania não a abandonara mesmo naquela situação. Com um sorriso obsceno, Proselyte se abaixara para que os lábios se aproximassem do ouvido do homem. Ele era quente. Ela adorava se queimar. Os dedos deslizaram pelos fios desgrenhados do maior, uma carícia sutil. Não o temia, mesmo consciente do fato de que ele não era o mesmo Uriel e que este fora consumido por uma ira arrebatadora, suas palavras seriam compreendidas com perfeição por quem outrora se dedicara à religião.

──── Eu vim para lançar fogo sobre a terra… E bem quisera que já estivesse a arder. 

O contato fora interrompido aos poucos conforme o corpo se afastava, os rubis fixos às expressões do outro com os lábios levemente entreabertos. ──── Meu Rei… Deixe-me queimá-los em teu nome.

Mais uma vez fora levada ao mundo para a destruição. Uriel fora o causador de seu retorno, pois em vida a cultuava sem conhecimento de que a criatura mística que adorava, na verdade era ela. Enquanto ele sucumbia, “Catherine” ascendia ao público necessitado de crenças, carregados de uma fé cega em qualquer coisa que pudesse dar o mínimo de sentido às suas existências miseráveis.
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